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Rubrica
Falar Saúde
1 de Fevereiro de 2011 |
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“Chiclete (prova)
Chiclete (mastiga)
Chiclete (deita fora)
Chiclete (sem demora)”
Taxi, 1981
Falar Saúde Nº 8
A pastilha elástica na saúde
Hábito instalado na generalidade dos nossos alunos, mascar pastilha
elástica gera nos professores uma preocupação acrescida no funcionamento
da sala de aula.
Quantas vezes nos sentimos irritados com as mulheres e os homens de
amanhã, que insistem em comunicar como se estivessem com a boca cheia de
comida? Como lhes fazemos ver que, para além de desagradável, não
percebemos patavina do que nos querem dizer? Como se sentiriam eles se
um professor fizesse o mesmo e lhes explicasse a matéria como se tivesse
um defeito na fala?
Bolas, perdigotos e a sensação que o maxilar vai saltar fora a qualquer
momento, são algumas das situações incómodas com que a pastilha
elástica, vulgo “chiclete”, nos tem confrontado, mas faltas de educação
à parte, será que a pastilha elástica nos traz benefícios?
Comecemos por conhecer um pouco mais, sobre esta companheira milenar,
com uma breve cronologia da sua história:
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1000 d.C. – O povo Maia da região sul do México, mascava uma espécie
de goma formada a partir de resina seca de uma árvore, a Sapota;
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1519 – Conquista do Império Asteca pelos espanhóis, os quais adoptaram
o costume de mascar a goma a que chamaram “chicle”;
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1869 - Um célebre general mexicano chamado António Lopes de Santa Anna,
decidiu visitar Nova Iorque, levando com ele 250 kg de resina da tal
árvore que ele gostava de mascar e com ela fazer fortuna. Foi nesta
altura que Thomas Adams viu uma rapariga numa farmácia a mascar cera o
que o fez lembrar o costume do general mexicano de mascar goma. Então,
resolveu negociar com o farmacêutico, propondo-lhe que ele vendesse a
goma, pois tinha a certeza que era melhor do que a cera. O farmacêutico
vendeu e foi um sucesso. Thomas Adams investiu dinheiro, importou mais
stock e constituiu uma fábrica (The Adams New York Chewing Gum Company);
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1871 – Adams patenteou a primeira máquina de produzir “chiclets”;
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Sec. XX – Mais pessoas começaram a fazer "chicletes" com aromas como a
hortelã. As "chicletes" chegaram à Europa através dos soldados
americanos que vieram combater na 2ª Guerra Mundial. Eles davam-nas às
crianças europeias, que devido à guerra não tinham doces. Um dos
soldados, após a guerra ter terminado, voltou e fundou em França uma
fábrica de "chicletes" com sabor a clorofila (Hollywood Chewing Gum).
Desde então, com o aumento do seu consumo, os fabricantes tiveram de
procurar novos produtos que substituíssem as resinas naturais. Surgiram
novos tipos (sem açúcar, com novas cores, novos sabores, novos formatos,
etc.) e novas marcas de pastilhas, como é o caso da Trident (1962).
Voltando à questão sobre o valor da pastilha elástica, aqui ficam
algumas reflexões que espero possam esclarecer todos aqueles que tenham
de lidar com a tão famosa “chiclete”.
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As pastilhas elásticas provocam cárie
Mito. O açúcar presente na pastilha elástica é o grande causador das
cáries. Por isso, as pastilhas sem açúcar podem ficar de fora dessa
lista. Contudo, há que ter em conta que alguns corantes e conservantes
da composição das pastilhas podem ser feitos à base de amido e outros
carboidratos, que se transformam em açúcar, sendo, por isso, nocivos aos
dentes. Outra questão ainda tem a ver com o facto de algumas pastilhas
elásticas, dependendo da sua composição, poderem deixar o pH da boca
muito ácido, o que também pode provocar cáries.
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A pastilha elástica ajuda a clarear os dentes
Mito. Mesmo as versões que prometem esse benefício contêm concentrações
muito baixas de peróxido (substância branqueadora) para proporcionar o
branqueamento dentário. Além de que o peróxido não pode ser usado em
altas concentrações na pastilha, dado ser um produto tóxico.
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A pastilha elástica é prejudicial para a dieta
Mito. A pastilha elástica não é muito calórica e até tem a vantagem de
ajuda a enganar a fome, enquanto se masca. No entanto, há que saber
diferenciar as pastilhas elásticas – as que têm recheio devem
efectivamente ser evitadas, pois são mais calóricas que as comuns (cada
uma tem, em média, 15 calorias, sendo que a pastilha elástica sem
açúcar, por seu lado, tem somente 2,5 calorias por unidade).
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A pastilha elástica pode causar dores de estômago
Verdade. Uma pessoa que masque constantemente pastilha elástica,
passando muitas horas sem comer, estimula a produção do suco gástrico,
que contém ácido clorídrico. Esta substância irá agir directamente nas
paredes do estômago, podendo causar dores.
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A pastilha elástica atenua o mau hálito
Verdade. Com a limpeza superficial que a pastilha proporciona, o hálito
é favorecido já que há a renovação das células da boca. Mas esta é uma
acção momentânea e não se aplica a todos. Por exemplo, quem tem
problemas orais, como periodontite, cáries ou uma restauração
danificada, pode ficar com o mau hálito acentuado ao mascar pastilha.
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A pastilha elástica pode ser benéfica para a higiene oral
Verdade. O acto de mascar e a fricção da pastilha nos dentes
proporcionam uma limpeza superficial dos mesmos. Quanto mais espessa for
a pastilha, melhor será o resultado. Mas nunca devemos esquecer que a
pastilha elástica não substitui de forma alguma a escova e o fio dental,
nem remove a placa bacteriana ou previne a sua formação.
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Mastigar pastilha elástica aumenta a concentração
Verdade. Foi o que concluíram investigadores britânicos a partir de uma
experiência. Testaram três grupos de 25 voluntários para perceber o
número de palavras ou algarismos que conseguiam fixar. Com e sem
pastilha elástica na boca. Resultado, as pessoas com pastilha tiveram
melhores resultados. O segundo melhor grupo foi o que se comportou como
se estivesse a mastigar. Os que ficaram com os maxilares quietos
decoraram menos. A explicação parece simples, o movimento de mastigação
faz circular mais sangue nos músculos da boca, o coração bate mais
depressa e o cérebro recebe mais oxigénio e nutrientes. Ao mesmo tempo,
o pâncreas produz insulina para desfazer os açúcares, dando energia
extra à zona do cérebro responsável pela memorização.
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É perigoso engolir chicletes
Verdade. É muito perigoso engolir chicletes, principalmente para as
crianças, que podem ter um problema de prisão de ventre ou até mesmo um
distúrbio respiratório. A “chiclete”, quando engolida, pode formar uma
bola no intestino, e impedir a saída das fezes. Ela pode ainda alojar-se
no esófago e, assim, prejudicar a respiração. Mas isto pode ocorrer com
mais frequência com as crianças que se habituaram a engolir “chicletes”,
não com as que o fazem ocasionalmente.
Prof. Isabel Cristina
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