Falar Saúde n.º 132
Lanches saudáveis

Prof.ª Isabel Cristina
15/09/2025

As férias de verão terminaram e chegou a hora de regressar à escola, o que obriga, naturalmente, a implementar novas rotinas, entre as quais os hábitos alimentares são fundamentais para ter um bom rendimento escolar e, por isso, devem ser mais equilibrados do que nas férias, durante as quais é normal cometermos alguns excessos.

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“Quem não é para comer também não é para trabalhar.”
(Provérbio popular)

 

Hoje, vou apelar a um maior cuidado com os lanches intermédios, pois estes contribuem para um bom nível de energia ao longo do dia, evitando a fraqueza e a quebra de rendimento físico e intelectual, logo devem ser o mais saudáveis possível.


Nos últimos anos, tenho assistido, com preocupação, a um aumento do consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) por uma grande parte da comunidade escolar, em particular dos alunos. Por outras palavras, a falta de tempo leva-nos muitas vezes a optar por comprar produtos embalados, alternativas muito pouco saudáveis, sobretudo para as crianças e jovens.


Os AUP são, por exemplo, bolachas e biscoitos, barras de cereais, batatas fritas de pacote, refrigerantes, achocolatados, bebidas lácteas adoçadas, bolos de pastelaria ou bolos embalados. São alimentos muito acessíveis, nomeadamente nos supermercados, muito palatáveis (saborosos) e atraentes. O lado negro é que apresentam sempre mais açúcar, mais gordura, mais aditivos, o que não tem qualquer interesse nutricional, pelo contrário podem acarretar doença.


O consumo de AUP está ligado a 32 tipos diferentes de doenças, incluindo diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares, cancro e casos que evoluem para mortalidade precoce, de acordo com uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). O estudo, publicado, em 2024, no “British Medical Journal”, analisou os dados de quase 10 milhões de pessoas e os respetivos resultados desses hábitos alimentares, em diferentes países. Um outro estudo observacional, de mais de 500 mil pessoas nos EUA e apresentado numa recente reunião da “American Society for Nutrition”, permite relacionar os consumidores mais assíduos de AUP com uma maior probabilidade de mortalidade precoce em cerca de 10%, mesmo considerando os índices de massa corporal e a qualidade geral da dieta. A análise mostrou uma relação significativa entre o consumo destes alimentos e doenças crónicas não transmissíveis, ou seja, são efeitos preocupantes na saúde pública.


Este tema não é novo e tem sido também uma preocupação para as entidades estatais. A Direção Geral de Saúde e a Direção Geral da Educação lançaram, em 2021, um “Guia para lanches escolares saudáveis”, no qual podemos encontrar seis boas razões para nos preocuparmos com a preparação destas refeições, a saber:

  1. Cerca de 25% da ingestão energética diária das crianças e dos jovens provém dos lanches (manhã e tarde);

  2. Ao lanche, são habitualmente consumidos produtos alimentares com pouco valor nutricional, como batatas fritas, bolachas e bebidas açucaradas;

  3. A alimentação saudável tem um importante papel no desenvolvimento cognitivo e no rendimento escolar;

  4. Os estímulos ao consumo de produtos alimentares com pouco valor nutricional existem em redor das escolas, e a publicidade a estes alimentos é frequente;

  5. Preparar um lanche saudável e apelativo para as crianças e os jovens comparativamente com a oferta alimentar a que estão expostos é um grande desafio para muitos pais;

  6. A Covid-19, pela interrupção das atividades letivas presenciais e pela necessidade de uma permanência prolongada em casa, pode ter contribuído para que as crianças e os jovens tenham adotado comportamentos alimentares e de atividade física que favorecem o ganho de peso.


O referido guia, cuja leitura recomendo vivamente, apresenta, entre informações e sugestões, importantes e pertinentes, uma “checklist”, muito fácil de preencher e interpretar, que permite avaliar se estamos a fazer, ou não, as escolhas certas para um lanche saudável (https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Noticias_documentos/guialanchesescolares.pdf).


Iogurtes com baixo teor de açúcar e gordura, fruta fresca, frutos secos, como as nozes ou as amêndoas, pão escuro com queijo ou fiambre, bolachas simples, queijo fresco e gelatina são alguns exemplos de alimentos que podemos combinar e consumir nestes lanches.


Assim, como exemplo de um lanche para os mais jovens, temos:

  • A meio da manhã, o ideal seria uma peça de fruta e um pacote de leite, ou uma peça de fruta e três bolachas maria ou de água e sal ou meio pão;

  • A meio da tarde, em princípio, pode comer um pão inteiro ou cinco/seis bolachas maria ou de água e sal. Outras alternativas são um pão com queijo e um pacote de leite, ou um pão e um iogurte de aromas ou uma peça de fruta;

  • Tanto da parte da manhã como da parte da tarde, uma boa opção são palitos de vegetais (podem ser de cenoura ou tomate) ou espetadas de frutas;

  • Outro hábito importante é beber água, pois uma boa hidratação favorece a saúde e melhora a concentração.


Nota: O conteúdo do lanche a meio da manhã e a meio da tarde não terá de ser diferente, mas poderá variar em função do intervalo de horas disponível. Se a manhã for mais curta, se calhar tem interesse fazer um lanche mais pequeno do que se tivermos uma tarde muito longa.


Aproveito para lembrar que diminuir o consumo de AUP é diminuir o consumo de alimentos embalados. Reduzir o número de embalagens faz bem ao ambiente, pois contribui para a redução da produção de resíduos, diminui o desperdício de recursos naturais (água e energia), usados na produção das embalagens e do próprio alimento, e atenua a emissão de gases de efeito estufa.


Desejo que tenham um ótimo ano letivo, repleto de sucessos e com menos embalagens, as mesmas que devem ser colocadas nos recipientes apropriados e que se encontram distribuídos pelo Colégio.


Vamos diminuir os “pacotes” nos cestos das salas?!

 

Prof.ª Isabel Cristina

 

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