“Quem não é para comer também não é para trabalhar.”
(Provérbio popular)
Hoje, vou apelar a um maior cuidado com os lanches intermédios, pois estes contribuem para um bom nível de energia ao longo do dia, evitando a fraqueza e a quebra de rendimento físico e intelectual, logo devem ser o mais saudáveis possível.
Nos últimos anos, tenho assistido, com preocupação, a um aumento do consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) por uma grande parte da comunidade escolar, em particular dos alunos. Por outras palavras, a falta de tempo leva-nos muitas vezes a optar por comprar produtos embalados, alternativas muito pouco saudáveis, sobretudo para as crianças e jovens.
Os AUP são, por exemplo, bolachas e biscoitos, barras de cereais, batatas fritas de pacote, refrigerantes, achocolatados, bebidas lácteas adoçadas, bolos de pastelaria ou bolos embalados. São alimentos muito acessíveis, nomeadamente nos supermercados, muito palatáveis (saborosos) e atraentes. O lado negro é que apresentam sempre mais açúcar, mais gordura, mais aditivos, o que não tem qualquer interesse nutricional, pelo contrário podem acarretar doença.
O consumo de AUP está ligado a 32 tipos diferentes de doenças, incluindo diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares, cancro e casos que evoluem para mortalidade precoce, de acordo com uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). O estudo, publicado, em 2024, no “British Medical Journal”, analisou os dados de quase 10 milhões de pessoas e os respetivos resultados desses hábitos alimentares, em diferentes países. Um outro estudo observacional, de mais de 500 mil pessoas nos EUA e apresentado numa recente reunião da “American Society for Nutrition”, permite relacionar os consumidores mais assíduos de AUP com uma maior probabilidade de mortalidade precoce em cerca de 10%, mesmo considerando os índices de massa corporal e a qualidade geral da dieta. A análise mostrou uma relação significativa entre o consumo destes alimentos e doenças crónicas não transmissíveis, ou seja, são efeitos preocupantes na saúde pública.
Este tema não é novo e tem sido também uma preocupação para as entidades estatais. A Direção Geral de Saúde e a Direção Geral da Educação lançaram, em 2021, um “Guia para lanches escolares saudáveis”, no qual podemos encontrar seis boas razões para nos preocuparmos com a preparação destas refeições, a saber:
- Cerca de 25% da ingestão energética diária das crianças e dos jovens provém dos lanches (manhã e tarde);
- Ao lanche, são habitualmente consumidos produtos alimentares com pouco valor nutricional, como batatas fritas, bolachas e bebidas açucaradas;
- A alimentação saudável tem um importante papel no desenvolvimento cognitivo e no rendimento escolar;
- Os estímulos ao consumo de produtos alimentares com pouco valor nutricional existem em redor das escolas, e a publicidade a estes alimentos é frequente;
- Preparar um lanche saudável e apelativo para as crianças e os jovens comparativamente com a oferta alimentar a que estão expostos é um grande desafio para muitos pais;
- A Covid-19, pela interrupção das atividades letivas presenciais e pela necessidade de uma permanência prolongada em casa, pode ter contribuído para que as crianças e os jovens tenham adotado comportamentos alimentares e de atividade física que favorecem o ganho de peso.
O referido guia, cuja leitura recomendo vivamente, apresenta, entre informações e sugestões, importantes e pertinentes, uma “checklist”, muito fácil de preencher e interpretar, que permite avaliar se estamos a fazer, ou não, as escolhas certas para um lanche saudável
(https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Noticias_documentos/guialanchesescolares.pdf).
Iogurtes com baixo teor de açúcar e gordura, fruta fresca, frutos secos, como as nozes ou as amêndoas, pão escuro com queijo ou fiambre, bolachas simples, queijo fresco e gelatina são alguns exemplos de alimentos que podemos combinar e consumir nestes lanches.
Assim, como exemplo de um lanche para os mais jovens, temos:
- A meio da manhã, o ideal seria uma peça de fruta e um pacote de leite, ou uma peça de fruta e três bolachas maria ou de água e sal ou meio pão;
- A meio da tarde, em princípio, pode comer um pão inteiro ou cinco/seis bolachas maria ou de água e sal. Outras alternativas são um pão com queijo e um pacote de leite, ou um pão e um iogurte de aromas ou uma peça de fruta;
- Tanto da parte da manhã como da parte da tarde, uma boa opção são palitos de vegetais (podem ser de cenoura ou tomate) ou espetadas de frutas;
- Outro hábito importante é beber água, pois uma boa hidratação favorece a saúde e melhora a concentração.
Nota: O conteúdo do lanche a meio da manhã e a meio da tarde não terá de ser diferente, mas poderá variar em função do intervalo de horas disponível. Se a manhã for mais curta, se calhar tem interesse fazer um lanche mais pequeno do que se tivermos uma tarde muito longa.
Aproveito para lembrar que diminuir o consumo de AUP é diminuir o consumo de alimentos embalados. Reduzir o número de embalagens faz bem ao ambiente, pois contribui para a redução da produção de resíduos, diminui o desperdício de recursos naturais (água e energia), usados na produção das embalagens e do próprio alimento, e atenua a emissão de gases de efeito estufa.
Desejo que tenham um ótimo ano letivo, repleto de sucessos e com menos embalagens, as mesmas que devem ser colocadas nos recipientes apropriados e que se encontram distribuídos pelo Colégio.
Vamos diminuir os “pacotes” nos cestos das salas?!
Prof.ª Isabel Cristina