Esta atividade integrou-se, também, nas comemorações do bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco. Deste modo, foram visitados locais emblemáticos ligados às vivências e memórias do escritor nesta cidade, nomeadamente a antiga Cadeia da Relação, a Livraria Lello, a Estação de S. Bento, o Teatro de S. João e a Biblioteca Municipal do Porto.
Na verdade, nenhum outro escritor conseguiu estabelecer, através da sua vida ou nas páginas da sua produção literária, uma ligação tão estreita e profunda com o burgo portuense como o fez Camilo Castelo Branco. De uma riqueza literária ímpar, o autor conduz-nos na apologia do amor, que acreditava ser suficiente para salvar cada um de nós. E mais do que o amor, Camilo representa a intemporalidade e a eternidade, e a cidade do Porto respira este legado na sua plenitude.
O itinerário turístico-literário iniciou-se no Largo Amor de Perdição (em frente ao Edifício da antiga Cadeia da Relação) e foi guiado, de uma forma exemplar, pela Filipa Sousa e pela Matilde Pinho, alunas do 11.º BT1. Nesse local, foram apresentados dados biográficos de Camilo (desde o seu nascimento até ao momento em que foi preso) e algumas curiosidades sobre este edifício, construído em finais do século XVIII. Atualmente, é a sede do Centro Português de Fotografia.
Seguidamente, o grupo dirigiu-se à rua das Carmelitas, onde se localiza a Livraria Lello. Se o Amor de Perdição é o romance do Porto, Camilo Castelo Branco é um autor da Livraria Lello. A primeira edição desta obra inesquecível foi editada pela Livraria Moré, num tempo em que Ernesto Chardron era já o seu gerente e editor. Nesta livraria tão emblemática, Chardron e Camilo tornaram-se amigos, desenvolvendo, também, uma relação profissional, por vezes, até intensa e tumultuosa, bem ao estilo do escritor, e que durou e se manifestou mesmo após a morte de Chardron, quando os direitos de edição do autor passaram para os sucessores do editor francês, tendo vindo a ser adquiridos pelos irmãos Lello.
O terceiro lugar visitado foi a Estação Ferroviária de S. Bento, onde se localizava o Convento de S. Bento de Avé Maria. Neste convento, em 1844, Camilo inicia a sua participação nos abadessados, eventos de índole poética, realizados aquando da eleição, ou reeleição da abadessa do convento. Estes eventos eram muito concorridos por todos os poetas e candidatos a literatos.
O grupo, com muito entusiasmo e curiosidade, caminhou até ao Teatro de S. João. O teatro mais camiliano do Porto foi construído graças ao empenho de Francisco de Almada e Melo, o «Almada filho», e inaugurado, apesar de ainda não estar terminado, a 13 de maio de 1798. Várias peças escritas por Camilo foram à cena neste teatro: O Magnetismo, em 1855, Justiça, em 1856, Espinho e Flores, 1857, entre outras.
O itinerário turístico-literário terminou no belíssimo Jardim de S. Lázaro, que se localiza em frente à Biblioteca Municipal do Porto. Camilo Castelo Branco foi um leitor compulsivo e presença assídua nessa biblioteca, onde consultava e lia livros antigos e velhos manuscritos.
Neste jardim encantador, as guias turísticas apresentaram, de uma forma exímia e encantadora, informações muito relevantes sobre a vida de Camilo Castelo Branco e da sua família em São Miguel de Seide, na casa que pertencera a Pinheiro Alves, o primeiro marido de Ana Plácido.
O suicídio de Camilo encerrou uma vida longa e infeliz, marcada pela instabilidade, pelos infortúnios e, nos últimos anos, pela doença, que o autor refletiu na sua obra literária.
Costuma dizer-se que os romances e as novelas do escritor foram uma espécie de catarse e de reflexo da sua vida pessoal. É, por exemplo, evidente o paralelo que pode ser estabelecido entre a odisseia da sua relação com Ana Plácido e a trama da sua obra mais célebre, Amor de Perdição, que apresenta um amor desesperado, trágico e sem remissão, causado pelos constrangimentos sociais da época.
Camilo Castelo Branco escreveu de forma muito intensa ao longo de toda a sua vida, em vários géneros, porque a escrita era o seu principal sustento. Deixou mais de duzentas e sessenta obras, escritas ao longo de quase quarenta anos.
Por fim, é de assinalar a relevância desta atividade para todos os intervenientes (professoras, alunos e Encarregados de Educação), tendo em conta que permitiu a vivência de uma experiência formativa enriquecedora e de momentos de partilha de saberes e de emoções ao longo das movimentadas ruas da cidade do Porto.
Professoras Olívia Magalhães e Sónia Teixeira