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É possível afirmar, com toda a clareza, que no passado dia 24 de Março, fez-se
justiça!
Novamente, os alunos do Curso de Assessoria Jurídica e Documentação saíram do
CIC para deixar a sua marca, neste caso, no Tribunal da Comarca de V. N. de
Gaia.
Mas, desta vez o contexto mudou.
Se no passado apenas olhámos a Justiça, no presente fizemos parte dela. E a
vontade de o fazer invadia-nos, torturando-nos de ânsia de uma forma estranha,
uma tortura que queríamos. Assim sendo, nas nossas veias já não corria sangue,
mas sim vontade de Justiça, de a fazer, ou até, de a ser.
É hábito dizer-se que o que é bom dura menos, mas nem sempre assim é. Este dia é
a excepção, significando a forma como algo de bom pode durar, se isso está
aliado com o nervosismo. Seja no caminho ou no próprio Tribunal, suster o medo
de errar era quase impossível, pois já não éramos a assistência, mas muito mais,
tínhamos um peso enorme às costas. Os ponteiros do relógio pareciam demorar-se,
rodavam de forma preguiçosa, fazendo durar aquele bom momento de
pré-concretização de um sonho, embora que tão amedrontado.
Algum tempo depois, havia chegado o grande momento, o de accionar aquela enorme
maquinaria, que estava nas nossas mãos, parecendo demasiado. Foram entrando, um
a um, aqueles que iam ser ouvidos. Lá, sabiam que precisavam de concentração,
pois tinham de enfrentar um colectivo preparado a todos os níveis de modo a
apurar a verdade, e as duas poderosas equipas, que estavam a postos, prontas a
usar qualquer tipo de arma para ver o seu lado vencer, vítima de um lado,
arguido do outro, sob a mais poderosa das argumentações.
Enquanto isso, no exterior da sala de audiências, o medo persistia. Um tacanho
olhar para o interior permitia visionar o que se passava, e obrigava-nos a
repetir tudo de novo, a caminhar de um lado para o outro, vezes sem conta, e
esperar que nada falhasse, pois o projecto assim o exigia, graças aos imponentes
nomes que o patrocinavam, entre eles a Presidência da República.
O tempo foi passando, até que a série de depoimentos acabou, chegando a hora
daquela tão bem preparada equipa tomar a decisão mais correcta. Neste momento, a
assistência aproveitava para partilhar opiniões, tanto “noviços” – os alunos do
10º ano que assistiam – como docentes, entre eles o respeitoso Padre Joaquim
Cavadas (director pedagógico do CIC), sendo que os últimos teciam os seus
elogios, de modo a valorizar o árduo trabalho que havia sido realizado, durante
tantos meses, pelos “jovens pupilos”, como são chamados pelas nossas competentes
guias. Era também disso que nos lembrávamos, de quem nos trouxe até aquele
pódio, esforçando-se por preparar tudo ao milímetro, as professoras M. José
Queirós e M. José Fontes. Só nós éramos reconhecidos, e só nós sabíamos quem
realmente o merecia – aquelas que eram a base de todo o projecto.
Quando regressou a equipa, todos os presentes sabiam que esta carregava o peso
da justiça, a grande decisão que marcava o objectivo do dia. Assim sendo, e
mesmo já sabendo qual seria o veredicto, escutou-se com atenção as palavras do
Juiz do Tribunal da Comarca de V.N. de Gaia, a quem, em nome do Curso de AJD,
faço os mais sinceros agradecimentos pela sua disponibilidade em mostrar o mundo
da justiça à nova geração, de forma tão próxima.
Os arguidos, que haviam sido acusados pelo crime de Violência Escolar e
Violência no Namoro, foram condenados, tal como as leis da sociedade e de um
Estado de Direito exigem. A pena, mesmo que fictícia, foi planeada de modo a dar
a entender que não se pretendia a reclusão do criminoso, mas sim uma
oportunidade para estes jovens se redimirem, podendo recriar-se, colocando uma
pedra sobre os seus erros. Com certeza que a ideia de que a justiça necessita de
recorrer à violência se desvaneceu da mente daqueles que assistiam, pois foi
provado que se trata de um caminho errado.
Posto tudo isto, o Faça-se Justiça foi mais do que um “simples” projecto
escolar, foi uma lição para não mais esquecer, de modo a criar o primeiro laço
com a justiça, que nos motivará a construir outros, um conjunto de laços que a
fortificará.
Com saudade, despedimo-nos desta cruzada, com as sensações mais emocionantes a
pairar entre nós, iluminados por aquele dia solarengo, que construía o cenário
perfeito para um dia perfeito. Assim a justiça o pede, assim AJD o fez. Erguemos
com todo o orgulho a bandeira vermelha – cor do Direito, e dos nossos corações –
que ao sabor do vento mostrou todo o seu esplendor.
Pela forte união das nossas mãos, marcadas como a madeira envelhecida depois de
tanto esforço, mas reluzentes de satisfação, fizemos justiça, e continuaremos a
fazê-lo, pois não existimos de outro modo.
João de Azevedo Dias, Nº 10584 – 11º LRJ2
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