“AUSCHWITZ SEMPRE” IX
Alerta: extrema-direita está de regresso em força

Catarina, Luís, Miguel, Noémia, Ana e Beatriz, do 12.º ano AJD (via científica)
27/05/2019

O Holocausto ocorreu na Segunda Guerra Mundial, no século passado, e, nas décadas que se seguiram, todo o mundo visionou filmes e fotografias, ouviu depoimentos de sobreviventes, leu escritos e visitou os locais que preservam a memória do horror. Não há como disfarçar, não são “fake news”, pois aconteceu!

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Preocupante é que o tempo verbal do verbo acontecer não se formula no pretérito. O nazismo acontece, só mudou de cara e chama-se neonazismo: contém o mesmo discurso de ódio da versão original, só que adaptado aos novos tempos. Os seus defensores não se assumem nazis(tas). São “libertadores”, “nacionalistas”, “guerreiros da nação”, defensores do seu país e da sua cor. “Não somos racistas, somos orgulhosos”, diz uma página brasileira do “Facebook” que defende a superioridade branca, com ataques a negros e a índios. Não referem a expressão “pureza racial”, mas a “pureza cultural”, e também não perseguem só judeus, homossexuais, ciganos ou testemunhas de Jeová, mas também imigrantes, refugiados, muçulmanos, negros, pobres ou qualquer outra minoria que ameace a sua identidade “superior”, variando os alvos conforme os países.


Preocupante é como todos eles adaptam de alguma forma a receita de salvação nazi(sta), preservando os seus ingredientes fundamentais: o nacionalismo - que pressupõe a glorificação do “Nós” e a exclusão do “Eles”; o revisionismo - negando a evidência do Holocausto; sentimento de xenofobia e racismo - associado ao aumento da imigração; dificuldades financeiras – pelo desvio de fundos ao apoio a um fluxo migratório elevado.


Antes de refletirmos sobre o que está a acontecer à União Europeia, cuja fundação assenta nos pilares, inegociáveis, da cooperação, não discriminação, solidariedade e democracia e que, na atualidade, se encontra ameaçada pela expressão, cada vez maior, dos movimentos e partidos de extrema-direita na Europa, compete-nos, no âmbito do que foi o nosso trabalho de investigação, não deixar “cair” os holocaustos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial quando a memória estava “fresca” e a Comunidade Internacional relativamente mobilizada.


António Guterres defendeu, em julho de 2017, que, para ajudar a prevenir futuras atrocidades, é “preciso olhar honestamente para o passado”, reconhecer que estes crimes aconteceram e o papel mundial permitindo que eles ocorressem.

 

De facto, nem a Convenção de Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio de 9 de dezembro de 1948, mas ainda não ratificada por todos os países, nem o princípio da Responsabilidade de Proteger, criado em 2005 para comprometer e responsabilizar os Estados pela proteção das suas populações de crimes de guerra e contra a humanidade, requerendo que a comunidade internacional se envolva se esta obrigação não for cumprida pelo próprio Estado, impediu as atrocidades que se seguiram.


A título de exemplo:


Camboja: Entre 1975 e 1979, um dos maiores genocídios da humanidade, e o maior proporcionalmente à população, foi promovido pelo Khmer Vermelho, nome informal dado ao Partido Comunista do Camboja. Khmer é o nome da etnia de 97,6% dos cambojanos. Este período é considerado o mais sangrento da história nacional e estima-se que mais de um milhão de pessoas foram mortas nos campos de extermínio, em quatro anos: o Khmer Vermelho dizimou cerca de 25% da população do Camboja de forma direta através de execuções e, indiretamente, por fome, exaustão e doenças.


República Popular do Congo: Opulenta em recursos e de belezas naturais, a República Democrática do Congo poderia ser a representação de um paraíso tropical em pleno coração de África, se não fosse a ganância dos seus países vizinhos e das empresas internacionais pelo ouro, diamantes, cobalto, cobre e carvão, presentes na região. Esta disputa envolveu o território numa guerra que já deixou cerca de seis milhões de mortos desde 1993. O conflito, praticamente ignorado pela imprensa e pela comunidade internacional, é considerado o maior holocausto da história.


Ruanda: Em 6 de abril de 1994, os hutus começaram o massacre contra os tutsis. A comunidade internacional ficou de braços cruzados enquanto dezenas de milhares de vidas eram ceifadas: em 100 dias, o genocídio ruandês matou cerca de 800 mil tutsis e simpatizantes.
Srebrenica: O Massacre de Srebrenica foi o assassinato, de 11 a 25 de julho de 1995, de, aproximadamente, 8373 bósnios muçulmanos, em que a faixa etária das vítimas varia entre crianças a idosos, na região de Srebrenica, pelo Exército Bósnio da Sérvia, sob o comando do General Ratko Mladić e, igualmente, com a participação de uma unidade paramilitar sérvia conhecida como os "Escorpiões".

Síria: A guerra civil na Síria iniciou-se em março de 2011 e é considerada um dos grandes desastres humanos dos últimos anos, que continua o seu andamento nos dias de hoje. Foi responsável por cerca de 470 mil mortes e levou mais de 11 milhões de pessoas a sair de suas casas, tornando-as refugiadas.


Iémen: a situação no Iémen é, segundo as Nações Unidas, um desastre humano, pois mais de 6800 civis morreram e, pelo menos, 10700 ficaram feridos desde março de 2015, diz a ONU. Segundo o Conselho de Direitos Humanos da ONU, os civis têm sido vítimas de "implacáveis violações da lei humanitária internacional".


E tantos outros….


De volta à União Europeia, cujas eleições para o Parlamento ocorrerão no próximo dia 26 de maio, apresentamos uma sondagem do Eurostat que refere que mais de 14% dos deputados nomeados para as bancadas pertencem aos partidos de extrema-direita. Este crescimento eleitoral repentino, na ordem dos 40%, coloca os nacionalistas como os prováveis grandes vencedores das eleições.


A crescente presença de forças populistas eurocéticas é uma fonte de preocupações para Bruxelas, podendo dificultar os planos dos partidos tradicionais em escolher os novos titulares para os cargos mais definidores do rumo da Europa: a presidência da Comissão Europeia, do Conselho Europeu e do Banco Central Europeu, que serão decididos ainda este ano, após as eleições.


Transcrevemos aqui algumas declarações:

A extrema-direita a caminho Parlamento Europeu


1. Suíça

O Partido Popular Suíço (SVP) tem o maior número de assentos no Parlamento, além de dois postos no gabinete do governo da Suíça. Nas últimas eleições, teve 29% dos votos. Apoia referendos para restringir a imigração, além de ter defendido a proibição da construção de mesquitas no país.


2. Dinamarca

O Partido Popular Dinamarquês apoia a plataforma de centro-direita com um discurso ultranacionalista e xenófobo no Parlamento. Opõe-se às políticas de imigração no país, conquistou quase 27% dos votos e duplicou o número de eurodeputados ao defender que a Dinamarca não é um país onde a imigração é natural ou bem-vinda. “A burocracia da União Europeia é uma ameaça direta à prosperidade, progresso e democracia da Dinamarca. É tempo de a Dinamarca se erguer e dos dinamarqueses recuperarem a sua liberdade”.


3. Hungria

O Movimento por uma Hungria Melhor, liderado por Viktor Orban, é um dos mais óbvios partidos neonazis no Parlamento Europeu, que manteve o resultado e os seus três assentos. Defende que os residentes judeus assinem um registo especial, classificando-os como um "risco para a segurança nacional".

"Nós não vemos essas pessoas como refugiados muçulmanos. Nós vemo-los como invasores muçulmanos. Nós acreditamos que um número grande de muçulmanos leva inevitavelmente a uma sociedade paralela, porque cristãos e muçulmanos nunca vão conseguir unir-se. Multiculturalismo é uma ilusão."


4. Áustria

O partido de extrema-direita, Partido da Liberdade da Áustria, duplicou, para quatro, o número de representantes, com a bandeira da anti-imigração, em particular a muçulmana. O líder, Heinz-Christian Strache, no entanto, diz que não é racista porque "come kebabs".
O Partido da Liberdade de Norbert Hofer usa o sentimento anti-União Europeia e o medo da chegada de refugiados para se estabelecer como a força política na Áustria, a sua popularidade reflete a insatisfação com os partidos tradicionais que dominam no país desde a Segunda Guerra Mundial.


5.Finlândia

Eurocético, antes conhecido como o Partido dos Verdadeiros Finlandeses, foi multado por comentários que fez no seu blogue contra os muçulmanos, enquanto outro recusou um convite para as celebrações do Dia da Independência porque não queria ver casais do mesmo sexo.

 

6. França

Jean Marie Le Pen, fundador da Frente Nacional, presidido atualmente pela sua filha, Marine, fez manchetes a semana passada ao sugerir que o Ébola poderia resolver o problema da imigração na Europa "em três meses". Noutra ocasião, Le Pen classificou as câmaras de gás do holocausto como "um pequeno pormenor".

“A Frente Nacional (FN), de extrema-direita, lidera as sondagens para as eleições europeias do passado domingo.

De acordo com uma projeção avançada pelo “site” “Politico”, o partido liderado por Marine Le Pen poderá alcançar 23,6% dos votos, o equivalente a 22 eurodeputados.


7. Espanha

Os resultados mostram que o Vox obteve 24 assentos parlamentares, correspondentes aos 2,5 milhões de votos que conseguiu. O partido constituiu a preferência de 10,2% dos eleitores, transformando-se na quinta força política em Espanha depois destas eleições gerais.
"Somos de extrema necessidade"


8. Alemanha

O neonazi PND faz campanha baseado na ideia de travar a imigração, com “slogans” como "o barco está cheio" e insistindo que a Europa "é um continente de brancos".
A extrema-direita alemã compara nazismo a um excremento de pássaro na história da Alemanha.
Antigo membro do Alternativa para a Alemanha (AfD), André Poggenburg vai lançar um novo partido de extrema-direita que já tem um logótipo escolhido: trata-se da centáurea, flor utilizada como símbolo secreto dos nazis austríacos durante os anos 30.
O partido alemão de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) é, segundo uma sondagem publicada este domingo, a força política mais popular no leste do país, a poucos meses das eleições que se vão realizar nessa região.
A sondagem publicada no diário "Bild am Sonntag" estima que esta formação nacionalista e anti-imigração conseguiria 23% dos votos nos seis estados federados que fazem parte da Alemanha oriental se as eleições nacionais se celebrassem este domingo.


9. Itália

Salvini, líder do partido de extrema-direita italiano, propôs na segunda-feira um recenseamento da comunidade cigana para facilitar, entre outras possibilidades, a expulsão dos que tiverem nacionalidade estrangeira e estiverem em situação ilegal, uma vez que, nas suas palavras, "os ciganos italianos, infelizmente, têm de ficar com eles".

10. Holanda

O Fórum para a Democracia, formação liderada por Thierry Baudet, foi declarado vencedor das eleições regionais na Holanda, é contra a imigração e a ostentação da proliferação da religião islâmica no país.

 

Recordamos aqui a frase que lemos em Auschwitz:
“Aqueles que não se lembram do passado estão condenados a repeti-lo.”

 

Catarina, Luís, Miguel, Noémia, Ana e Beatriz, do 12.º ano AJD (via científica)


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