Como promover a qualidade do ensino?
Contributos da Psicologia da motivação humana.

 

Manuel Viegas Abreu
Faculdade de Psicologia
e de Ciências da Educação da
Universidade de Coimbra

Resumo

A clarificação do conceito de qualidade constitui tarefa prévia relativamente a todas as propostas ou "programas de promoção da qualidade" em qualquer sector ou instância da actividade. Com base na psicologia da motivação humana, é possível encontrar critérios objectivos adequados à averiguação dos níveis de qualidade registados no funcionamento de um determinado sistema ou de uma determinada organização e à promoção da respectiva melhoria. No contexto do sistema escolar, há múltiplos indicadores de disfuncionamentos graves que denotam perdas ou falhas de qualidade (insucesso escolar, abandonos, stress de alunos e de professores, ineficácia das aprendizagens). Importa, neste quadro, tentar identificar a raiz dos referidos disfuncionamentos e explicitar, de seguida, como referenciar padrões de qualidade.

Mais do que definida por referência à "satisfação dos clientes", a qualidade deve ser referida aos objectivos do sistema educativo e à adequação dos procedimentos ou do modo como as actividades de ensino e de avaliação são concebidos e postos em prática para atingir os objectivos ou metas formativas consignadas na Lei de Bases. O modelo relacional do sistema educativo, inspirado na teoria relacional da motivação humana, permite detectar um conjunto de razões pelas quais o ensino está actualmente a atingir níveis de desqualificação socialmente preocupantes que têm vindo a acentuar-se nas últimas décadas, embora já muito antes se fizessem notar inequívocos sinais de risco.

Nesta perspectiva, a actual desqualificação do ensino resulta menos da "massificação" das escolas ou do aumento abrupto de grande quantidade de alunos que têm acedido e continuam acedendo ao sistema do que da alienação dos objectivos formativos provocada pelo predomínio, nas práticas de ensino e de aprendizagem, da avaliação classificativa, a qual passou a funcionar não como meio instrumental de regulação e aperfeiçoamento daquelas práticas mas como fim ou objectivo prioritário, usurpando o lugar às metas ou finalidades formativas centradas no desenvolvimento da personalidade dos alunos e das suas potencialidades.

Alcançada esta clarificação preliminar, enunciam-se as principais linhas de uma estratégia de motivação susceptível de fundamentar uma renovação qualitativa dos métodos de ensino, de avaliação formativa e de organização de aprendizagens eficazes conducentes ao reconhecimento e ao desenvolvimento da diversidade de potencialidades das pessoas.