A DISCIPLINA NA ESCOLA E
NA FAMÍLIA
São estas
as conclusões dos trabalhos apresentados ao longo dos dois dias das
Jornadas:
Na sessão
de abertura destas Jornadas, o Sr. P.e João de Freitas, Presidente da
Comissão Organizadora, alicerçado no saber secular e sempre actual de
Platão, pôs no ar a saudável “provocação” de considerar o estado
da educação e o papel da escola em preocupante crise. Mas, em vez de
fazer da escola e dos seus servidores a causa de todos os insucessos e
indisciplina distribuiu as culpas igualmente e sensatamente pela família.
Neste particular, é bom escutar vozes livres e desassombradas que gritam
: “o rei vai nu”. Com
efeito, muita gente, nas escolas, por comodismo e muitas famílias, por
egoísmo, demitem-se aligeiradamente dos seus deveres e responsabilidades.
Em boa verdade, numa educação escolar que se quer forte, sadia, feita em
liberdade, os professores são colaboradores indispensáveis dos pais,
mas, só isso. Não custa, pois, aceitar que o conceito de disciplina, sua
prática e respeito pelos outros se ensaiam no clima familiar, onde a
cultura do facilitismo e da educação mole não têm espaço. A escola
virá, então, avalizar o caminho que passa pela profunda informação,
pela convivência, pela tolerância, entre-ajuda, democracia, rumo a
valores que estão sempre mais altos e mais longe a acenar ao Homem
inquieto e livre.
O Sr. P.e
José Maia, Presidente da Direcção do Colégio dos Carvalhos, tomando a
palavra sublinhou a oportunidade destas Jornadas que levarão a uma mais
funda tomada de consciência, sobre os ventos da violência e da anarquia,
que sopram agressivamente sobre escolas e famílias. Não convém, por
isso, perder a noção do inesperado de factores de vária ordem que
anulam, muitas das vezes, de forma imprevista os planos concebidos
e tidos como solução. Caso contrário, cairemos na situação daquele
que tendo perspectivado seis princípios para educar o seu primeiro e
futuro filho, se viu diante da atónita realidade de ter seis filhos e
nenhum princípio.
De seguida,
o Dr. Filipe Menezes, Presidente da Câmara Municipal de Gaia, numa análise
de fino pedagogo, reconheceu os problemas que afectam a escola e a família.
Mas olhando mais acima, referiu de forma corajosa a debilidade da organização
política do Estado. Falou da gritante falta de assumpção de
responsabilidades da parte de muitos que, confortavelmente instalados em
cargos públicos, se divorciaram, há muito, de quem os elege e sustenta.
A inversão de valores, disse, predomina à rédea solta indiferente à
imagem que dá aos jovens numa altura das suas vidas em que eles,
dificilmente, se dão conta do clima perverso do mundo. Organização política
do Estado, Escola e Família têm de reconhecer que a maior riqueza do País
está nos recursos humanos. Urge, portanto, estabelecer um clima de ordem
democraticamente aceite. Sinais de violência menores, delitos
aparentemente insignificantes, devem e têm de ser, desassombradamente,
punidos em benefício de todos e, de modo especial, em prol desses mesmos
violentos e prevaricadores.
O Prof. Dr.
Nicolau Raposo trouxe à reflexão dos participantes o problema da (in)disciplina
na escola, apoiado numa análise psico-sócio-educativa. No seu entender,
a qualidade do ensino exige disciplina da turma, o que, em bom princípio,
deveria ser verdade adquirida em vivência democrática. Reconhece, no
entanto, haver factores que concorrem fortemente para a perturbação do
clima de trabalho, tais como: massificação do ensino, diferentes
estatutos económico-culturais, transferências de responsabilidades e
outros. Assim, o problema da complexidade da disciplina na aula há-de
encarar-se pela tríplice via de acesso: a sociológica, a psicológica e
a educativa, concorrendo cada uma delas com dados susceptíveis de
melhorar a situação.
No plano
familiar, os Drs. Segismundo Pinto e Antonieta Cabral, assim como o Sr.
Maximino Gonçalves, representante da Escola de Pais Nacional,
puseram a tónica das suas intervenções no fenómeno da
transformação da família.
As áreas referidas foram as da relação conjugal, a da permissividade da
educação parental e a da demissão da função educadora de pais. Estes
trocam a missão de educar pelo acompanhamento, pela de educar pela imposição
ou laxismo, o que conduz a um autoritarismo prejudicial. Impõe-se,
portanto, uma séria formação parental que leve ao fim dos pais biológicos,
sem códigos de valores, em favor dos pais preocupados, interessados,
companheiros, verdadeiros educadores, motores fundamentais da interacção
pais/filhos.
O Prof. Dr.
José Augusto Rebelo abordando a temática “Implicações da disciplina
na aprendizagem”, começou por distinguir entre aprendizagem informal,
aquela que adquirimos no dia a dia, e a aprendizagem formal ou escolar.
Esta, que implica a verdadeira disciplina na escola, na família e até na
sociedade, caracteriza-se por um comportamento adequado à situação ou
actividade que se está a
desenvolver. Será sempre o resultado ou a manifestação de orientação
ou regulação do comportamento, impondo-se regras de auto-regulação,
sabendo como e quando agir, responder, participar, ouvir e compreender.
Para se atingir tais desideratos, há necessidade de co-responsabilizar
pais, professores e alunos, melhorar a comunicação professor/aluno,
estreitar os laços de colaboração entre pais e professores e promover a
crescente actividade dos alunos intra e extra sala de aula. Para uma
escola dita de qualidade concorrem alguns princípios, entre os quais se
salientam métodos de ensino
interactivo e participativo, expectativas elevadas em relação aos
alunos, normas claras contra a violência e transgressões e uma boa
organização da escola.
Nas comunicações
livres salientaram-se tópicos, que constituem o resultado de trabalhos de
investigação, e que se direccionam no sentido de encontrar resposta para
todos quantos se sentem frustrados, os que poderiam ser .... e não são.
A consciência de que no processo educativo, ao lado das frias competências
é urgente o amor, que conduz à aceitação e não à rejeição. A
necessidade de espaços (bibliotecas, ludotecas, salas de convívio) e acções
(actividades de lazer) adequados
à formação para a cidadania.
No segundo
dia das Jornadas, o Prof. Dr. Feliciano Veiga,
a propósito da violência e indisciplina na escola, salientou a
necessidade de se responsabilizar aquele que comete o erro, a fim de que
ele tome consciência, assuma responsabilidades e se auto- corrija.
Acentuou a tónica na premência de se estabelecer um forte relacionamento
interpessoal, professor/aluno, de forma a evitar-se actos de indisciplina.
Quatro tipos preocupantes de figuras de aluno/problema, mereceram uma atenção
especial: o exibicionista, o mandão, o vingativo e o que se auto-intitula
incapaz, sendo este o tipo mais preocupante, pois já é um desistente
antes de começar qualquer tarefa.
A Profª Drª
Teresa Estrela, na sua conferência , salientou que a disciplina não pode
ser entendida, nunca, como uma submissão a uma autoridade exterior
coerciva, mas sempre como submissão a uma autoridade interior,
conscientemente consentida. Este conceito tem de ser interiorizado por
toda a escola. Sugeriu que mais importante do que remediar será prevenir
situações que possam conduzir à indisciplina. Salientou a necessidade
de existir prevenção ao nível do aluno, da turma, da escola enquanto
tal e na sua relação com a família – tudo isto bem apoiado num
sentido de responsabilidade. Tendo a disciplina uma relação intrínseca
com o crescimento da pessoa humana, é indispensável a existência de
modelos de autoridade como garante dos Valores Universais.
A concluir
estas Jornadas, intervieram os Professores Doutores Carlos Fernandes da
Silva e Anabela Sousa Pereira, que, de uma forma
viva e cativante, se ocuparam dos incidentes críticos na sala de
aula e consequente análise comportamental aplicada. Começaram por
evidenciar a aceitação de um incorformismo rebelde, mas disciplinado dos
alunos, como consequência da existência de incidentes críticos, mas não
de crianças indisciplinadas. Torna-se, por isso, necessário que o
docente seja o líder de uma tarefa de grupo que persegue objectivos
previamente definidos, onde cada um dos alunos constitui peça
fundamental, não devendo anular-se as respectivas capacidades criativas.
A noção de equilíbrio, até no disparate, tem de existir, desde que
desencadeie o exercício da reflexão. Referindo-se, por último, à lei
do comportamento humano na teoria de Skinner, reflectiram sobre os
conceitos de reforço e punição.
Fazemos
votos para que as reflexões aqui trazidas
possam servir para que os agentes implicados no processo educativo
(família, escola, professores, Poder instituído) possam todos em conjunto contribuir para minimizar e, se possível,
erradicar a problemática da
indisciplina da nossa sociedade. |