![]() José Augusto S. Rebelo Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra |
Implicações da disciplina na aprendizagem
Se estas são condições básicas para aprender, a disciplina é certamente uma outra condição que as acompanha e que permite que elas possam ter lugar e exercer a sua influência. Efectivamente, a disciplina proporciona um ambiente favorável à aprendizagem, porque resulta duma combinação de relações adequadas entre os agentes implicados na aprendizagem. A disciplina tem a ver com o relacionamento que se estabelece entre comunicadores de mensagem (pais, professores ou quaisquer outras pessoas) e receptores dela (filhos, alunos, ouvintes ou expectadores), relacionamento esse que inclui igualmente as relações e atitudes entre colegas (quando a mensagem é transmitida simultaneamente a mais que um indivíduo). |
Existir ou não disciplina em situações de aprendizagem formal (na escola) não é indiferente à realização de aprendizagens. Com efeito, a indisciplina altera, em maior ou menor grau, o ambiente pedagógico favorável, criando obstáculos da mais diversa ordem: ruídos, desassossego, distracções, atropelos, fricções, mal-estar, incompreensão, desrespeito. Ora, tudo isto provoca consequências negativas na aprendizagem, que poderão conduzir a uma aprendizagem deficiente ou cheia de lacunas ou até impedir que ela se realize. |
In
– Disciplina/Estratégias de Intervenção Ana Maria M. S. Veríssimo Ferreira |
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Esta comunicação com o título In-Disciplina/Estratégias de Intervenção é o testemunho de um trabalho de investigação/intervenção numa escola Básica de 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico que pretende ser dinâmica na resolução dos seus problemas e ajustada às necessidades de toda a sua comunidade educativa. Foram
consideradas duas problemáticas de base – indisciplina/interculturalidade
que foram caracterizadas no sentido de elaborar um projecto educativo que
minimize os problemas disciplinares existentes e que fomente o respeito
pela diferença, promovendo uma efectiva igualdade de oportunidades. Em
primeiro lugar foi feito o diagnóstico da situação - 1. caracterização do meio e da escola; 2. levantamento de
opiniões de alunos, professores e pessoal auxiliar e administrativo sobre
a escola, as inter-relações, as normas e punições, o comportamento e
aproveitamento, a indisciplina na escola, os colegas com pertenças
culturais diferentes e os seus interesses; 3. análise de todas as
participações disciplinares que foram comunicadas por escrito aos
Directores de Turma do 5º ao 9º ano, durante um ano lectivo. Em
segundo lugar, com base no tratamento dos dados recolhidos e na análise
do trabalho de toda a equipa, foi elaborado e implementado um projecto de
intervenção, integrado no Projecto Educativo. A intervenção foi
perspectivada em diversas frentes, com base no Decreto-Lei nº 43/89 de 3
de Fevereiro, que estabelece o regime jurídico da autonomia das escolas. Fez-se uma intervenção conjunta com a participação/envolvimento de alunos, pais, professores, pessoal auxiliar, autarquias e associações com a preocupação de diversificar as respostas de acordo com o levantamento de necessidades e interesses feito. |
O lazer escolar: contributo para a redução da indisciplina e violência na escola Maria da Guia Oliveira do Carmo Com base na análise das
práticas de lazer de 533 crianças dos 10 aos 15 anos do concelho de Vila
do Conde e dos espaços escolares disponibilizados para o lazer pelas
Escolas Básicas 2, 3 do mesmo concelho, são discutidas algumas das
linhas explicativas das características que ambos apresentam, em especial
a discrepância entre as actividades praticadas e as desejadas. Esta
discrepância leva-nos a afirmar que os espaços disponibilizados pelas
escolas, sobretudo para o lazer activo, bem como as suas características
se constituem como uma variável estruturante no acesso ao lazer,
nomeadamente ao lazer activo e contribuem para a existência de situações
violentas entre os pares (dos 533 alunos estudados, 203 foram impedidos de
jogar por companheiros; 302 foram impedidos de aceder aos espaços de
lazer pretendidos quer por pares quer por funcionários). Por serem
insuficientes, pouco diversificados e estarem pouco disponíveis para os
alunos criam-se sobretudo nos recreios e zonas desportivas situações de bullying
- “abuso sistemático do poder entre pares” e “intencionalidade de
fazer mal” segundo Pereira (2001). Permanecendo os alunos na escola além do tempo lectivo (37,7% dos alunos passaram entre 36 e 40 horas na escola; 47,1% tiveram entre seis e dez “feriados” no período de uma semana, a anterior à aplicação do questionário e destes 37,5% não abandonaram as instalações escolares; 60,8% permaneceram na escola aguardando o turno da tarde) e existindo a necessidade de criar espaços e actividades de ocupação desses tempos livres, evidenciamos a importância do lazer e da sua organização na escola como contributo fundamental para a valorização individual dos alunos e valorização social da escola. |
As crianças em situação de perigo e a escola Maria da Conceição Paninho Pinto Os
comportamentos de indisciplina na escola têm sido fonte de crescente
preocupação e investimento por parte dos vários actores do processo
educativo dos alunos. Na
escola, a indisciplina constitui por vezes um recurso para as crianças em
situação de perigo chamarem sobre si a atenção que não conseguem em
casa. A
presente comunicação revisita esta questão motivada por alguns
resultados reportados a um trabalho de investigação, com uma amostra de
crianças portuguesas e brasileiras que viviam na rua. Foram
encontrados os seguintes factores causais da situação extrema de
indisciplina nas dez histórias de vida analisadas: Mudanças nas famílias
e no casamento, os problemas económicos, a cultura do divórcio, stresse,
mudança e materialismo, falta de tempo para si próprio e para os que estão
próximos de nós, aumento do número de crianças que são educadas por
outros, fora da família, instabilidade dos casais e das relações
familiares, violência, uma sociedade carregada de sexualidade mal vivida,
as dependências do álcool, tabaco e drogas, os meios de comunicação e
as relações humanas, mudança de funções dentro da família, a migração
urbana e a sobre população. Usando as categorias do modelo de David H. Olson (1988), estas crianças provêm de famílias de tipo caótico, estão completamente separados da família, prima o lema “salve-se quem puder”, não há noção de lealdade e vivem por sua conta. Será apresentado um olhar crítico sobre a adequação da formação e motivação dos docentes para lidar com as crianças em situação de perigo. |